Investimentos de R$ 5,5 bilhões no setor de transmissão: os vencedores e impactos do leilão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)

Investimentos de R$ 5,5 bilhões no setor de transmissão: os vencedores e impactos do leilão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)

Com sete lotes arrematados e deságios de até 57 %, o leilão nº 4/2025 da Aneel projeta reforço da rede elétrica em 12 estados e economia significativa para consumidores.

A recente realização do Leilão de Transmissão nº 4/2025 promoveu um marco relevante para o setor elétrico brasileiro, envolvendo projetos de infraestrutura de transmissão de energia que, juntos, demandam cerca de R$ 5,53 bilhões em investimentos nos próximos cinco anos.

A operação foi promovida pela Aneel, em parceria com o Ministério de Minas e Energia (MME), e contemplou sete lotes distribuídos por 12 estados: Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia e São Paulo.

O certame visou contratar concessões públicas para prestação do serviço de transmissão de energia elétrica, com prazo de contrato de 30 anos, englobando elaboração de projeto, construção, montagem, operação e manutenção das instalações.

Cada lote teve definida uma Receita Anual Permitida (RAP) máxima, que serve como remuneração anual para o vencedor da concessão, a empresa que apresentar a menor RAP (maior deságio) leva o lote.

Nesse leilão, os deságios foram expressivos: variaram de cerca de 36,7 % a até 57,5 % sobre o teto de RAP estabelecido.

Por exemplo:

  • O Lote 4, que abrange trechos em Rondônia e Mato Grosso e exige investimento estimado em cerca de R$ 1,2 bilhão, foi vencido pelo fundo FIP Warehouse (ligado ao BTG Pactual) com RAP de R$ 116,2 milhões e deságio de 47,30 %.

  • O Lote 1, na Região Metropolitana de São Paulo, apresentado pela Shalom FIP Multiestratégia, obteve deságio de 57,51 % sobre a RAP máxima.

Análise mais criteriosa

O resultado do leilão revela diversos aspectos de destaque e implicações para o setor elétrico e para a economia:

1. Competitividade elevada
O fato de todos os sete lotes terem sido arrematados e com deságios elevados sinaliza que houve ampla participação e atratividade por parte dos investidores. Conforme a Aneel, foram obtidas RAPs propostas no total de R$ 449 milhões, ante teto de R$ 936 milhões, o que representa cerca de 47,98 % de deságio médio.

Essa forte concorrência pode indicar que investidores avaliam positivamente o setor de transmissão como foco de investimento de médio/longo prazo, motivados por contratos longos (30 anos) e previsibilidade regulatória.

2. Economia para o consumidor
Com os deságios alcançados, a Aneel estima que a economia para os consumidores  por conta da menor remuneração futura será da ordem de R$ 11,5 bilhões ao longo da vigência dos contratos. Isso significa que, embora sejam investimentos elevados, há contrapartida no sentido de menor impacto tarifário futuro, desde que as concessões cumpram seus prazos e obrigações.

3. Fortalecimento da rede de transmissão e segurança energética
Os lotes envolvem quase 1.081 km de novas linhas de transmissão e instalação de 2.000 MW em capacidade de transformação, além de compensações síncronas, em 12 estados.

Projetos como o Lote 4 (em Rondônia/Mato Grosso) visam ampliar a capacidade de transmissão do subsistema Acre–Rondônia. Esses investimentos são fundamentais para interligar áreas remotas, facilitar o escoamento de geração (ex: do Norte/Nordeste para o Centro‑Sul), reduzir perdas e aumentar a confiabilidade do sistema elétrico.

4. Riscos e desafios regulatórios e operacionais
Apesar dos aspectos positivos, há pontos a considerar:

  • O prazo para conclusão das obras varia de 42 a 60 meses, dependendo da complexidade de cada lote, implicando risco de atraso ou aumento de custos.
  • A necessidade de adequação ambiental, licenciamento e cumprimento de obrigações trabalhistas e societárias está prevista no edital.
  • A forte concorrência e grande deságio implicam que os vencedores assumem margem menor o que exige eficiência na execução para garantir viabilidade.
  • O cenário macroeconômico, de inflação, custo de materiais e câmbio, pode afetar o custo final das obras e a lucratividade do projeto.

O verdadeiro “momento‑clímax” deste leilão reside no equilíbrio entre investimento robusto em infraestrutura crítica e economia significativa para o consumidor, tudo isso em um ambiente de forte competição e pressão por eficiência.
É raro observar no setor de concessões públicas um leilão em que os deságios sejam tão expressivos (até 57 %), ao mesmo tempo em que os projetos demandam bilhões de reais em investimentos. Esse fenômeno sugere uma maturação do mercado de transmissão de energia no Brasil, com investidores confiantes e condições regulatórias mais maduras.
Adicionalmente, a amplitude geográfica com abrangência em 12 estados, sublinha que o fortalecimento da rede elétrica não está concentrado apenas nas regiões mais desenvolvidas, mas alcança áreas estratégicas, inclusive no Norte e Nordeste do país.

Por que isso importa?

Porque a expansão e modernização da rede de transmissão de energia são pilares para o fortalecimento do sistema elétrico nacional, para a integração de fontes renováveis, para a atração de novos investimentos, e para a garantia de segurança energética e tarifas mais competitivas.
Em particular:

  • Sem uma rede de transmissão robusta, mesmo que a geração elétrica (hidrelétrica, eólica, solar) cresça, não haverá como escoá‑la de forma eficiente ou sem perdas elevadas.

  • A realização de leilões com deságio elevado reduz o custo da infraestrutura para a sociedade, o que potencialmente reduz o impacto nas tarifas pagas pelos consumidores ao longo dos anos.

  • Para os investidores, contratos de 30 anos com remuneração garantida pela RAP oferecem previsibilidade, o que fortalece o ambiente de investimentos de infraestrutura no país.

Assim, este leilão da Aneel representa mais do que apenas mais uma licitação: é um indicativo de maturidade regulatória, de atração de capitais, de compromisso com expansão da infraestrutura, e de potencial benefício direto à sociedade.

Em síntese, o Leilão de Transmissão nº 4/2025 da Aneel concretizou a contratação de sete lotes com R$ 5,5‑6 bilhões em investimentos estimados, com deságios que ultrapassaram 50 % em alguns casos, e com ampla participação de fundos e empresas — tais como FIP Warehouse/BTG, EDP, CPFL, Axia Energia, Shalom FIP.
O resultado traduz‑se em fortalecimento da rede de transmissão no Brasil, abrangendo praticamente todas as regiões, e em vantagem para os consumidores por meio de economia projetada de aproximadamente R$ 11,5 bilhões ao longo dos contratos.
No entanto, o sucesso real dependerá da execução eficiente dos projetos, cumprimento de prazos, licenciamento ambiental e da manutenção do ambiente regulatório estável.
Por fim: por que isso importa? Porque infraestrutura energética é base para crescimento econômico sustentável, para integração de fontes renováveis, para segurança energética e para tarifas mais acessíveis. Este leilão dá passos concretos nessa direção.

 

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