Redata impulsiona salto de 32% na demanda por conexão de data centers à rede elétrica brasileira
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- 23/11/2025
Medida Provisória atrai novos investimentos e pressiona infraestrutura energética nacional, com 26,2 GW em solicitações de conexão em apenas dois meses
A expansão dos data centers no Brasil: entre incentivos fiscais e desafios estruturais
Desde a publicação da Medida Provisória nº 1.318/2025, que instituiu o regime tributário especial Redata, o Brasil testemunhou um crescimento expressivo na demanda por conexão de data centers à rede elétrica. Em apenas dois meses de vigência da MP, os pedidos aumentaram 6,4 gigawatts (GW), elevando para 26,2 GW o total em análise pelo Ministério de Minas e Energia, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Isso representa um aumento de 32,3% em relação aos números anteriores à medida.
O Redata foi concebido para estimular investimentos no setor de tecnologia da informação, especialmente em data centers voltados à computação em nuvem e inteligência artificial. A isenção de tributos sobre a importação e aquisição de equipamentos de alto valor agregado — como GPUs, switches e racks — deu novo fôlego ao mercado nacional, atraindo novos projetos e ampliando a expectativa de crescimento da economia digital.
Análise crítica: demanda real ou expectativa inflada?
Apesar da empolgação inicial, a EPE alerta para os riscos de superdimensionamento do sistema elétrico nacional. A maioria dos projetos encontra-se ainda em fase preliminar, sem garantias contratuais de execução. Isso coloca o governo diante de um dilema: investir bilhões em reforços de infraestrutura para atender uma demanda que pode não se concretizar.
Além disso, o contraste entre os 26,2 GW solicitados e o menos de 1 GW atualmente operacional em data centers no Brasil acende um sinal de alerta sobre a viabilidade e o real comprometimento dos proponentes desses projetos. A implementação efetiva dependerá de múltiplos fatores, incluindo viabilidade econômico-financeira, qualidade da infraestrutura de telecomunicações e a capacidade de expansão da malha de transmissão elétrica.
Foco geográfico e alternativas tecnológicas emergentes
São Paulo desponta como principal polo de concentração desses empreendimentos, especialmente nas regiões metropolitanas da capital e de Campinas. A EPE já recomendou R$ 1,6 bilhão em novos investimentos de transmissão na região, com potencial de liberar até 9 GW adicionais de margem de conexão até 2026.
Outras regiões também começam a despontar como áreas estratégicas, como o Rio de Janeiro, o Rio Grande do Sul e o Nordeste, onde há esforços para viabilizar mais 13 GW em novas conexões. Nesses locais, o alinhamento entre a disponibilidade de energia renovável e a demanda dos data centers pode representar uma oportunidade estratégica.
Para acelerar a adaptação da rede, soluções inovadoras estão em avaliação, como os dispositivos FACTS (para controle de fluxos de energia), DLRs (para ajuste dinâmico da capacidade de transmissão), recondutoramento com cabos HTLS e até uso de baterias para mitigar picos de carga. Tais medidas visam contornar o longo prazo necessário para licitação e construção de novas linhas de transmissão.
Por que o Redata marca um divisor de águas?
O Redata não apenas reconfigura a dinâmica de investimentos em tecnologia no Brasil, como também revela as fragilidades e gargalos da infraestrutura energética do país. A MP é um catalisador, mas seu sucesso dependerá da capacidade de conversão dos pedidos em projetos concretos, sem comprometer a estabilidade e os custos do sistema elétrico nacional.
A grande questão que se impõe é: o Brasil está preparado para atender, com responsabilidade e eficácia, a nova onda digital impulsionada pelo Redata? A resposta dependerá do equilíbrio entre incentivo fiscal, rigor técnico e planejamento energético sustentável.
