Redata impulsiona salto de 32% na demanda por conexão de data centers à rede elétrica brasileira

Redata impulsiona salto de 32% na demanda por conexão de data centers à rede elétrica brasileira

Medida Provisória atrai novos investimentos e pressiona infraestrutura energética nacional, com 26,2 GW em solicitações de conexão em apenas dois meses

A expansão dos data centers no Brasil: entre incentivos fiscais e desafios estruturais

Desde a publicação da Medida Provisória nº 1.318/2025, que instituiu o regime tributário especial Redata, o Brasil testemunhou um crescimento expressivo na demanda por conexão de data centers à rede elétrica. Em apenas dois meses de vigência da MP, os pedidos aumentaram 6,4 gigawatts (GW), elevando para 26,2 GW o total em análise pelo Ministério de Minas e Energia, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Isso representa um aumento de 32,3% em relação aos números anteriores à medida.

O Redata foi concebido para estimular investimentos no setor de tecnologia da informação, especialmente em data centers voltados à computação em nuvem e inteligência artificial. A isenção de tributos sobre a importação e aquisição de equipamentos de alto valor agregado — como GPUs, switches e racks — deu novo fôlego ao mercado nacional, atraindo novos projetos e ampliando a expectativa de crescimento da economia digital.

Análise crítica: demanda real ou expectativa inflada?

Apesar da empolgação inicial, a EPE alerta para os riscos de superdimensionamento do sistema elétrico nacional. A maioria dos projetos encontra-se ainda em fase preliminar, sem garantias contratuais de execução. Isso coloca o governo diante de um dilema: investir bilhões em reforços de infraestrutura para atender uma demanda que pode não se concretizar.

Além disso, o contraste entre os 26,2 GW solicitados e o menos de 1 GW atualmente operacional em data centers no Brasil acende um sinal de alerta sobre a viabilidade e o real comprometimento dos proponentes desses projetos. A implementação efetiva dependerá de múltiplos fatores, incluindo viabilidade econômico-financeira, qualidade da infraestrutura de telecomunicações e a capacidade de expansão da malha de transmissão elétrica.

Linha DN de Chaves Seccionadoras

Foco geográfico e alternativas tecnológicas emergentes

São Paulo desponta como principal polo de concentração desses empreendimentos, especialmente nas regiões metropolitanas da capital e de Campinas. A EPE já recomendou R$ 1,6 bilhão em novos investimentos de transmissão na região, com potencial de liberar até 9 GW adicionais de margem de conexão até 2026.

Outras regiões também começam a despontar como áreas estratégicas, como o Rio de Janeiro, o Rio Grande do Sul e o Nordeste, onde há esforços para viabilizar mais 13 GW em novas conexões. Nesses locais, o alinhamento entre a disponibilidade de energia renovável e a demanda dos data centers pode representar uma oportunidade estratégica.

Para acelerar a adaptação da rede, soluções inovadoras estão em avaliação, como os dispositivos FACTS (para controle de fluxos de energia), DLRs (para ajuste dinâmico da capacidade de transmissão), recondutoramento com cabos HTLS e até uso de baterias para mitigar picos de carga. Tais medidas visam contornar o longo prazo necessário para licitação e construção de novas linhas de transmissão.

Por que o Redata marca um divisor de águas?

O Redata não apenas reconfigura a dinâmica de investimentos em tecnologia no Brasil, como também revela as fragilidades e gargalos da infraestrutura energética do país. A MP é um catalisador, mas seu sucesso dependerá da capacidade de conversão dos pedidos em projetos concretos, sem comprometer a estabilidade e os custos do sistema elétrico nacional.

A grande questão que se impõe é: o Brasil está preparado para atender, com responsabilidade e eficácia, a nova onda digital impulsionada pelo Redata? A resposta dependerá do equilíbrio entre incentivo fiscal, rigor técnico e planejamento energético sustentável.

Relacionados

Investimentos de R$ 5,5 bilhões no setor de transmissão: os vencedores e impactos do leilão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)

Investimentos de R$ 5,5 bilhões no setor de transmissão: os vencedores…

Com sete lotes arrematados e deságios de até 57 %, o leilão nº 4/2025 da Aneel projeta reforço da rede elétrica em 12…
Reforma do setor elétrico: como as Medidas Provisórias 1.300, 1.304 e 1.307 redesenham o modelo brasileiro

Reforma do setor elétrico: como as Medidas Provisórias 1.300, 1.304 e 1.307…

Entenda o que muda e por que é fundamental com as novas diretrizes para encargos, abertura de mercado e geração no…
Desafios e impactos do constraint‑off no setor elétrico: o que revelou a audiência pública no Senado

Desafios e impactos do constraint‑off no setor elétrico: o…

Participantes apontam repasse tarifário, carência de infraestrutura e necessidade de regulação mais clara como pontos centrais da disputa No dia 30…